O que faz um professor? Figuras da docência e mistificação pedagógica

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sampaio, Andressa Mattos Salgado
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48138/tde-08112023-122729/
Resumo: O princípio do ofício do professor é a palavra endereçada. Esse foi o pressuposto que guiou a construção desta tese. A partir dele, buscamos indagar a insistência presente no debate acadêmico em pautar a formação de professores como um problema, ao situar o professor e a sua assim chamada insuficiente formação como responsável pelo fracasso escolar. A esse respeito, dedicamonos a examinar como a mistificação pedagógica (CHARLOT, 2013 [1975]) da experiência educativa tem produzido os contornos do que nomeamos nesta tese como figuras da docência. A partir dos estudos psicanalíticos no campo da educação, propomos pensar tal insistência como um indício de algo que não se quer ver. Em nossa análise, o que não se quer ver passa por esta questão: O que faz um professor? Enfrentar tal questão implica reconhecer que um professor faz parte de uma nação e dos sonhos dessa nação, que a experiência educativa reside no campo da fragilidade humana, e que a tarefa de um professor tem a ver com a responsabilidade com o mundo, no sentido da sua preservação, e com as crianças, no seu processo de filiação simbólica. Como uma ameaça à possibilidade de o professor se enunciar no seu ofício, lançando-se à palavra professoral como um alguém, analisamos como o imaginário pedagógico vigente, ao reduzir a educação à lógica da eficiência e qualidade do ensino parametrizado, aproxima a ação do professor a um processo semelhante ao da fabricação, a ponto de fazê-lo figurar no polo do ninguém, esvazia a experiência educativa do seu sentido público, e aprofunda ainda mais a crise na educação, deixando as crianças lançadas à sua própria sorte (ARENDT, 2018a). Assim, reafirmamos que a insistência sobre a urgência de se formar melhor os professores, bem como o debate em torno dos projetos que organizam tal modalidade, revela que nada se quer saber sobre o fato de que o professar só é possível para aqueles que se lançam à palavra em ação, e por isso não cedem ao império de OProfessor e da mistificação pedagógica. Tal insistência repousa, dentre outros, na ilusão de não ter que se haver com o preço que deve ser pago, no campo do desejo, para que uma nação seja tomada por um sonho de justiça (LAJONQUIÈRE, 2018). Do não-lugar reservado à palavra escolar decorre uma série de implicações para os professores e as crianças, que têm diminuída a possibilidade de se servir da experiência educativa a ponto de conquistar para si um lugar de palavra numa tradição existencial (SAMPAIO, 2021).
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Em nossa análise, o que não se quer ver passa por esta questão: O que faz um professor? Enfrentar tal questão implica reconhecer que um professor faz parte de uma nação e dos sonhos dessa nação, que a experiência educativa reside no campo da fragilidade humana, e que a tarefa de um professor tem a ver com a responsabilidade com o mundo, no sentido da sua preservação, e com as crianças, no seu processo de filiação simbólica. Como uma ameaça à possibilidade de o professor se enunciar no seu ofício, lançando-se à palavra professoral como um alguém, analisamos como o imaginário pedagógico vigente, ao reduzir a educação à lógica da eficiência e qualidade do ensino parametrizado, aproxima a ação do professor a um processo semelhante ao da fabricação, a ponto de fazê-lo figurar no polo do ninguém, esvazia a experiência educativa do seu sentido público, e aprofunda ainda mais a crise na educação, deixando as crianças lançadas à sua própria sorte (ARENDT, 2018a). Assim, reafirmamos que a insistência sobre a urgência de se formar melhor os professores, bem como o debate em torno dos projetos que organizam tal modalidade, revela que nada se quer saber sobre o fato de que o professar só é possível para aqueles que se lançam à palavra em ação, e por isso não cedem ao império de OProfessor e da mistificação pedagógica. Tal insistência repousa, dentre outros, na ilusão de não ter que se haver com o preço que deve ser pago, no campo do desejo, para que uma nação seja tomada por um sonho de justiça (LAJONQUIÈRE, 2018). Do não-lugar reservado à palavra escolar decorre uma série de implicações para os professores e as crianças, que têm diminuída a possibilidade de se servir da experiência educativa a ponto de conquistar para si um lugar de palavra numa tradição existencial (SAMPAIO, 2021).The principle of being a teacher is the addressed word. This was the assumption that guided the construction of this thesis. Based on it, we seek to question the insistence present in the academic debate on guiding teacher training as a problem, by situating the teacher and his so-called insufficient training as responsible for school failure. In this regard, we dedicated ourselves to examine how the pedagogical mystification (CHARLOT, 2013 [1975]) of the educational experience has produced the outline of what we named in this thesis as figures of teaching. Based on psychoanalytic studies in the field of education, we propose to think of such insistence as an indication of something that one does not want to see. In our analysis, what one does not want to see starts with this question: What does a teacher do? Facing this question implies recognizing that a teacher is part of a nation and that nations dreams, that the educational experience resides in the field of human frailty, and that a teachers task has to do with responsibility for the world, in the sense of its preservation, and with the children, in its process of symbolic affiliation. As a threat to the possibility of teachers expressing themselves in their craft, throwing himself into the professorial word as a someone, we analyze how the current pedagogical imaginary, by reducing education to the logic of efficiency and quality of parameterized teaching, approximates the teachers action to a process similar to that of manufacturing, to the point of making him appear on the pole of nobody, empties the educational experience of its public meaning, and further deepens the crisis in education, leaving the children to fend for themselves (ARENDT, 2018a). In that manner, we reaffirm that the insistence on the urgency of better training the teachers, as the debates around the projects that organize this modality, reveals that nothing is wanted to know about the fact that professing is only possible for those who throw themselves into the word in action, and therefore do not give in to the empire of The Teacher and pedagogical mystification. Such insistence relays, among others, the illusion of not having to deal with the price that must be paid, in the field of desire, for a nation to be taken over by a dream of justice (LAJONQUIÈRE, 2018). From the non-place reserved for the school word derives a series of implications for teachers and children, who have reduced the possibility of using the educational experience to the point of conquering for themselves a place of word in an existential tradition (SAMPAIO, 2021).Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPLajonquière, Leandro deSampaio, Andressa Mattos Salgado2023-08-11info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48138/tde-08112023-122729/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPReter o conteúdo por motivos de patente, publicação e/ou direitos autoriais.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-11-17T19:37:02Zoai:teses.usp.br:tde-08112023-122729Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-11-17T19:37:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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