Um estudo sobre os objetos cognatos e os adjetivos adverbiais no português do Brasil

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Leung, Renata Takllan Frauches
Data de Publicação: 2007
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-31102007-142212/
Resumo: Neste trabalho, analiso o fenômeno conhecido como \"uso adverbial do adjetivo\" (ou \"adjetivos adverbiais\"). Tal fenômeno, comum no Português do Brasil (PB), ocorre em sentenças como A Maria falou claro (cf. A Maria falou claramente) e levanta a questão sobre o estatuto categorial do modificador, na medida em que este apresenta forma de adjetivo, mas comportamento de advérbio. Alguns autores afirmam que se trata, de fato, de advérbios: os adjetivos sofrem um processo morfológico chamado de derivação imprópria ou conversão, que consiste na \"transposição de uma palavra de uma classe gramatical para outra\" (Basílio, 2000: 60). Outros autores, como Carnie (2000) e Negrão, Scher e Viotti (2003), sugerem que adjetivos e advérbios constituem uma única categoria gramatical. Um dos argumentos usados pelos autores é o fato de adjetivos e advérbios desempenharem o mesmo papel na sentença: atribuem propriedades aos itens que eles modificam. Essas e outras propostas existentes na literatura têm bons argumentos a seu favor. Contudo, ao olharmos para os dados, todas essas propostas se tornam insatisfatórias, na medida em que nenhuma delas dá conta de explicar os seguintes fatos da língua: em alguns contextos, as formas adverbial e adjetival são possíveis (A Maria falou claro/claramente); em outros contextos, apenas a forma adjetival é possível (A Maria namora firme/*firmemente), e ainda em outros, apenas a forma adverbial (Os soldados resistiram heroicamente/*heróico). A partir de um modelo gerativista do estudo da linguagem, é pertinente investigar não apenas o estatuto categorial dos itens lexicais em questão, mas também o que há na estrutura subjacente dessas sentenças que determina o contexto em que esses itens podem ou não ser utilizados. Seguindo a proposta de Lobato (2005), proponho que os chamados adjetivos adverbiais são, de fato, adjetivos, na medida em que eles modificam um nome implícito na sentença nomeadamente, o objeto cognato relacionado ao verbo, ou um indivíduo denotado pela raiz do verbo, nos termos de Levinson (2006). De fato, os contextos de produtividade das construções com objetos cognatos eventivos (Leung, 2006) são os mesmos contextos de produtividade dos adjetivos adverbiais. Além disso, apesar das aparências, o comportamento dos itens lexicais em questão não é tão adverbial quanto parece: ao contrário dos advérbios, eles não flutuam na sentença, mas têm que ser, obrigatoriamente, adjacentes ao verbo. Outro fator é que, via de regra, eles não podem co-ocorrer com um objeto temático, o que deveria ser possível se esses itens fossem, de fato, adverbiais.
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spelling Um estudo sobre os objetos cognatos e os adjetivos adverbiais no português do BrasilA study about the cognate objects and adverbial adjectives in the Brazilian PortugueseAdjectivesAdjetivosAdverbial modifierCognate objectsEventosEventsImplicit objectModificadores adverbiaisObjeto implícitoObjetos cognatosNeste trabalho, analiso o fenômeno conhecido como \"uso adverbial do adjetivo\" (ou \"adjetivos adverbiais\"). Tal fenômeno, comum no Português do Brasil (PB), ocorre em sentenças como A Maria falou claro (cf. A Maria falou claramente) e levanta a questão sobre o estatuto categorial do modificador, na medida em que este apresenta forma de adjetivo, mas comportamento de advérbio. Alguns autores afirmam que se trata, de fato, de advérbios: os adjetivos sofrem um processo morfológico chamado de derivação imprópria ou conversão, que consiste na \"transposição de uma palavra de uma classe gramatical para outra\" (Basílio, 2000: 60). Outros autores, como Carnie (2000) e Negrão, Scher e Viotti (2003), sugerem que adjetivos e advérbios constituem uma única categoria gramatical. Um dos argumentos usados pelos autores é o fato de adjetivos e advérbios desempenharem o mesmo papel na sentença: atribuem propriedades aos itens que eles modificam. Essas e outras propostas existentes na literatura têm bons argumentos a seu favor. Contudo, ao olharmos para os dados, todas essas propostas se tornam insatisfatórias, na medida em que nenhuma delas dá conta de explicar os seguintes fatos da língua: em alguns contextos, as formas adverbial e adjetival são possíveis (A Maria falou claro/claramente); em outros contextos, apenas a forma adjetival é possível (A Maria namora firme/*firmemente), e ainda em outros, apenas a forma adverbial (Os soldados resistiram heroicamente/*heróico). A partir de um modelo gerativista do estudo da linguagem, é pertinente investigar não apenas o estatuto categorial dos itens lexicais em questão, mas também o que há na estrutura subjacente dessas sentenças que determina o contexto em que esses itens podem ou não ser utilizados. Seguindo a proposta de Lobato (2005), proponho que os chamados adjetivos adverbiais são, de fato, adjetivos, na medida em que eles modificam um nome implícito na sentença nomeadamente, o objeto cognato relacionado ao verbo, ou um indivíduo denotado pela raiz do verbo, nos termos de Levinson (2006). De fato, os contextos de produtividade das construções com objetos cognatos eventivos (Leung, 2006) são os mesmos contextos de produtividade dos adjetivos adverbiais. Além disso, apesar das aparências, o comportamento dos itens lexicais em questão não é tão adverbial quanto parece: ao contrário dos advérbios, eles não flutuam na sentença, mas têm que ser, obrigatoriamente, adjacentes ao verbo. Outro fator é que, via de regra, eles não podem co-ocorrer com um objeto temático, o que deveria ser possível se esses itens fossem, de fato, adverbiais.In this work, I analyze the phenomenon known as \"the adverbial use of adjective\" (or \"adverbial adjectives\"). Such phenomenon, common in Brazilian Portuguese (PB), occurs in sentences such as A Maria falou claro (cf. A Maria falou claramente) and raises a question about the categorial status of the modifier, since it presents adjective form, but behaves like an adverb. Some authors say that, in fact, they are adverbs: the adjectives undergo a morphological process called improper derivation or conversion, which consists of the \"shift of a word from a grammatical class to another\" (Basílio, 2006:60). Some other authors, such as Carnie (2000) and Negrão, Scher e Viotti (2003), suggest that adjectives and adverbs belong to an unique grammar category. One of the arguments used by the authors is the fact that adjectives and adverbs carry out the same role in sentence: they attribute properties to the items modified by them. These and other existing suggestions in literature have good arguments on their side. However, when we look at some language data, all these suggestions become unsatisfactory, since none of them can explain the following facts: in some contexts, both the adverbial and adjectival forms is possible (A Maria falou claro/claramente); in other contexts, only the adjectival form is possible (A Maria namora firme/*firmemente), and still in others contexts, only the adverbial form can appear in the sentence (Os soldados resistiram heroicamente/*heróico). Based on a generative model for grammar studies, it is necessary to investigate not only the categorial status of the lexical items in question, but also what there is in the subjacent structure of these sentences, that determines the context in which they can or cannot be used. In this work, I suggest that the adverbial adjectives are, in fact, adjectives, since they can modify either an implicit noun in the sentence, namely, the cognate object related to the verb, or, in Levinson (2006)\'s terms, an individual denoted by the same root as the verb\'s. In fact, the productivity contexts of these constructions with eventive cognate objects (Leung, 2006) are the same productivity contexts where one can find the adverbial adjectives. Besides, the behavior of the lexical items in question is not so adverbial as it looks: differenty from adverbs, they don\'t float in the sentence, but they are, obligatorily, adjacent to the verb. Another important factor is that, generally, they can\'t occur with a thematic object, what should be possible if these items were, in fact, adverbs.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPScher, Ana PaulaLeung, Renata Takllan Frauches2007-09-19info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-31102007-142212/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:09:54Zoai:teses.usp.br:tde-31102007-142212Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:09:54Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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