A medicalização na escola: uma crítica ao diagnóstico do suposto Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ribeiro, Maria Izabel Souza
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/17307
Resumo: Esta tese tem como objeto a medicalização da aprendizagem de estudantes com queixa/diagnóstico do suposto Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A pesquisa, de natureza qualitativa, buscou investigar os fatores da/na escola de produção de dificuldades no processo de escolarização que são interpretadas como resultantes do TDAH. Especificamente, objetivou reconhecer as queixas dos alunos relativas ao processo de escolarização; identificar experiências em relação às dificuldades enfrentadas na escola e identificar possibilidades de intervenção pedagógica na perspectiva da superação da medicalização. Na atualidade o fenômeno da medicalização da educação tem expandido e consequentemente tem provocado o aumento na emissão de diagnósticos que determinam como foco e causa principal o aluno ao negligenciar as condições da realidade social e histórica. Perspectiva que não considera o conjunto de relações constituintes do contexto escolar e os diversos fatores implicados no processo de escolarização, resultando na patologização do aprender na escola. A pesquisa assumiu uma postura crítica à visão da medicalização que é pautada na compreensão naturalizada tanto da aprendizagem como do desenvolvimento. Dessa maneira, propôs a abordagem dos fenômenos relacionados ao suposto TDAH de uma forma não naturalizante, fundamentado na Abordagem Histórico-Cultural de Vigotski. A classificação, definição, diagnóstico e tratamento do suposto TDAH refletem o equívoco e a inadequada naturalização dos fenômenos humanos, pois o plano do desenvolvimento biológico e do desenvolvimento cultural são analisados pelo mesmo prisma. A atenção voluntária característica do desenvolvimento cultural é confundida com a atenção involuntária, função psicológica elementar, biológica, orgânica. Portanto, demonstra uma análise superficial e não compreensível da complexidade da relação entre o cultural e o biológico no humano e o processo de enraizamento do sujeito na cultura. Na busca da superação da análise fragmentada e reducionista da lógica medicalizante foi realizado o trabalho de campo junto a seis estudantes com queixa/diagnóstico de TDAH. Como procedimentos metodológicos foram realizados encontros temáticos e análise de documentos. Considerou-se que os estudantes também possuem queixas em relação à escola e partiu-se da compreensão de que os comportamentos e manifestações que são interpretados como “problema”, “sintoma”, “doença” revelam e denunciam fatores da própria escola que produzem a dificuldade de escolarização. Entre as queixas dos participantes da pesquisa destacam-se: quantidade significativa de atividades reprodutivas, desinteressantes, repetitivas e cansativas; ausência de tempo e espaço para atividades criadoras; falta ou tempo insuficiente do recreio; impaciência por parte dos profissionais da escola; ausência da escuta e do diálogo com os estudantes; falta de atenção da escola. As queixas apontam caminhos possíveis para a transformação do contexto escolar que convergem com as dimensões do educar e do cuidar delineadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica. Conclui-se que para a superação da medicalização na escola é preciso cuidar e educar a partir da construção de práticas e intervenções pedagógicas que acolham os diferentes modos de aprender e que criem condições para a construção dos conhecimentos sistematizados integrantes da proposta curricular e a apropriação do patrimônio cultural, científico e tecnológico por parte das crianças e adolescentes em escolarização.
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Na atualidade o fenômeno da medicalização da educação tem expandido e consequentemente tem provocado o aumento na emissão de diagnósticos que determinam como foco e causa principal o aluno ao negligenciar as condições da realidade social e histórica. Perspectiva que não considera o conjunto de relações constituintes do contexto escolar e os diversos fatores implicados no processo de escolarização, resultando na patologização do aprender na escola. A pesquisa assumiu uma postura crítica à visão da medicalização que é pautada na compreensão naturalizada tanto da aprendizagem como do desenvolvimento. Dessa maneira, propôs a abordagem dos fenômenos relacionados ao suposto TDAH de uma forma não naturalizante, fundamentado na Abordagem Histórico-Cultural de Vigotski. A classificação, definição, diagnóstico e tratamento do suposto TDAH refletem o equívoco e a inadequada naturalização dos fenômenos humanos, pois o plano do desenvolvimento biológico e do desenvolvimento cultural são analisados pelo mesmo prisma. A atenção voluntária característica do desenvolvimento cultural é confundida com a atenção involuntária, função psicológica elementar, biológica, orgânica. Portanto, demonstra uma análise superficial e não compreensível da complexidade da relação entre o cultural e o biológico no humano e o processo de enraizamento do sujeito na cultura. Na busca da superação da análise fragmentada e reducionista da lógica medicalizante foi realizado o trabalho de campo junto a seis estudantes com queixa/diagnóstico de TDAH. Como procedimentos metodológicos foram realizados encontros temáticos e análise de documentos. 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Conclui-se que para a superação da medicalização na escola é preciso cuidar e educar a partir da construção de práticas e intervenções pedagógicas que acolham os diferentes modos de aprender e que criem condições para a construção dos conhecimentos sistematizados integrantes da proposta curricular e a apropriação do patrimônio cultural, científico e tecnológico por parte das crianças e adolescentes em escolarização.Abstract The focal point of this dissertation is the medicalization of students’ learning process and their complains/diagnosis regarding their allegedly Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD). The qualitative research sought to investigate school elements that produce obstacles in the schooling process and that are mistaken as symptoms of ADHD. Particularly, it aims at understanding students complaints related to the schooling process, identify experiences related to the obstacles faced in the school and find out opportunities for pedagogical interventions with a view of overcoming medicalization. Nowadays, the medicalization phenomenon in the education has grown and by neglecting social and historical context, it increased the number of diagnoses that indicates the student as focus and main origin of the problem. An approach that does not take into account the set of relations comprising the school context and the several factors that imply on the schooling process, resulting in the school learning process pathologization. This research has taken a critical approach on the medicalization perspective that is based on the learning and development naturalized knowledge. Thus, this research proposes a non-naturalized approach on the alleged ADHD phenomena, based on Vygotsky Cultural-Historical theory. The alleged ADHD classification, definition, diagnosis and treatment reflects the misunderstanding and misappropriated naturalization of the Human phenomena, once the biological and cultural development are analyzed from the same point of view. The voluntary attention, a cultural development characteristic, is mistaken with the involuntary attention, a basic biologic and organic psychological feature. Therefore, it demonstrates a superficial and not understandable analyzes of the complex relationship between the cultural and biological existence of the Human being as well as the subject cultural roots process. In pursuit of overcoming the fragmented and reductionist analyzes of the medicalization logic, it was carried out a fieldwork with six students diagnosed/with complains of ADHD. Thematic meetings and documents review were used as methodological procedures. It was also regarded students with complaints concerning the school, from the perspective that these behaviors and expressions taken as "problems", "symptoms" or "disorder" show and prove the existence of elements in the school that produce obstacles to the schooling process. Among the research participants complains can be highlighted: significant amount of repetitive, unattractive and tiring activities, lack of time and space for the creative activities, lack of time or short break, school staff intolerance, absence of listening and dialog with the student, lack of interest of the school staff. All complains indicate possible items to cover in order to change the school context that converge with the aspects dimension of educate and take care of someone, established in the National Curricular Directives for the basic education. Therefore, it has been concluded that in order to overcome medicalization in school it is necessary to take care and to educate, creating pedagogic practices and interventions that shall approach different methods of learning and that can foster conditions to build up organized knowledge, which is part of the curricular proposal, as well as the appropriation of cultural, scientific and technological heritage, by children and adolescents in their schooling process.Submitted by Maria Izabel Ribeiro (maria.ribeiro@ufba.br) on 2015-03-27T12:47:56Z No. of bitstreams: 2 Tese_Doutorado_Maria_Izabel_Souza_Ribeiro.pdf: 2836646 bytes, checksum: 29f535632ebdb4c3a383f7a87a7c716d (MD5) TDAH_Como assim_Não sou categoria diagnóstica.mp4: 297274812 bytes, checksum: 007bd203953498170f4c7921fb2834af (MD5)Approved for entry into archive by Maria Auxiliadora da Silva Lopes (silopes@ufba.br) on 2015-03-30T16:07:48Z (GMT) No. of bitstreams: 2 Tese_Doutorado_Maria_Izabel_Souza_Ribeiro.pdf: 2836646 bytes, checksum: 29f535632ebdb4c3a383f7a87a7c716d (MD5) TDAH_Como assim_Não sou categoria diagnóstica.mp4: 297274812 bytes, checksum: 007bd203953498170f4c7921fb2834af (MD5)Made available in DSpace on 2015-03-30T16:07:48Z (GMT). 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