Cinema e Terceiro-mundismo: Luz Vermelha sobre a América Latina

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ferreira, Luís Gustavo Pereira [UNIFESP]
Data de Publicação: 2010
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNIFESP
Texto Completo: https://repositorio.unifesp.br/11600/67689
Resumo: Analisamos o filme O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla (1968), por acreditar que este filme coloca questões relevantes para o estudo do terceiro-mundismo, pensamento político que visa romper com o que seria o atraso na divisão clássica em 1º mundo e 3º mundo, aderindo às teorias de Libertação Nacional ou Descolonização, partindo da divisão clássica em três mundos. O filme foi livremente inspirado na história real de João Acácio Pereira da Costa, e narra a trajetória de Luz, o bandido, personagem revoltado, mas incapaz de transformar sua revolta em reação produtiva. O bandido da luz vermelha estabelece uma relação bastante próxima (ainda que crítica), com a produção de Glauber Rocha, o cineasta brasileiro mais próximo do Nuevo Cine Latinoamericano, e cuja obra discutia de forma veemente o terceiro-mundismo e o colonialismo, na política e nas artes. As concepções de Glauber Rocha que influenciaram o Cinema Novo foram inspiradas em Frantz Fanon, principalmente em dois aspectos: definição do colonialismo como violência e o processo de descolonização como uma transformação total no comportamento e na estrutura do colonizado. Essas ideias foram desenvolvidas em seu texto Estética da fome. Influenciado por Fanon, Glauber ampliou o conceito de Cinema Novo e formulou um projeto de “integração política e estética das cinematografias dos países pobres dos três continentes (America Latina, África e Ásia)”, projeto este denominado Cinema Tricontinental, inspirado no internacionalismo revolucionário guevariano. Com seus vários elementos que consideramos representativos daquilo que se poderia chamar de subdesenvolvimento, o filme nos faz vê-lo como uma obra de arte inserida nesse contexto de produção artística e intelectual engajada em processos de resistência ao imperialismo estadunidense. A identidade também era uma preocupação do Cinema Novo glauberiano e de diversos outros cineastas latino-americanos. Em O bandido a identidade e a situação do Brasil são discutidas no panorama latino-americano, que se insere num quadro mais amplo, o Terceiro mundo. Como dizem os locutores no filme, ninguém sabe ao certo a identidade do bandido. Da mesma forma, os brasileiros e latino-americanos também não têm clareza sobre sua identidade. Retomando diversas análises do Brasil, como as feitas pelos modernistas da década de 20, pelas esquerdas e pelo Cinema Novo, Sganzerla realizou um filme que dialoga, ainda, com a produção cinematográfica identificada ao terceiro-mundismo e com a estética cinematográfica de Orson Welles e da Nouvelle vague. Assim, O bandido é um filme irônico ao tratar da identidade latino-americana, terceiro-mundista, e bastante crítico aos modelos ideológicos hegemônicos no cinema político da época.
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O filme foi livremente inspirado na história real de João Acácio Pereira da Costa, e narra a trajetória de Luz, o bandido, personagem revoltado, mas incapaz de transformar sua revolta em reação produtiva. O bandido da luz vermelha estabelece uma relação bastante próxima (ainda que crítica), com a produção de Glauber Rocha, o cineasta brasileiro mais próximo do Nuevo Cine Latinoamericano, e cuja obra discutia de forma veemente o terceiro-mundismo e o colonialismo, na política e nas artes. As concepções de Glauber Rocha que influenciaram o Cinema Novo foram inspiradas em Frantz Fanon, principalmente em dois aspectos: definição do colonialismo como violência e o processo de descolonização como uma transformação total no comportamento e na estrutura do colonizado. Essas ideias foram desenvolvidas em seu texto Estética da fome. Influenciado por Fanon, Glauber ampliou o conceito de Cinema Novo e formulou um projeto de “integração política e estética das cinematografias dos países pobres dos três continentes (America Latina, África e Ásia)”, projeto este denominado Cinema Tricontinental, inspirado no internacionalismo revolucionário guevariano. Com seus vários elementos que consideramos representativos daquilo que se poderia chamar de subdesenvolvimento, o filme nos faz vê-lo como uma obra de arte inserida nesse contexto de produção artística e intelectual engajada em processos de resistência ao imperialismo estadunidense. A identidade também era uma preocupação do Cinema Novo glauberiano e de diversos outros cineastas latino-americanos. Em O bandido a identidade e a situação do Brasil são discutidas no panorama latino-americano, que se insere num quadro mais amplo, o Terceiro mundo. Como dizem os locutores no filme, ninguém sabe ao certo a identidade do bandido. Da mesma forma, os brasileiros e latino-americanos também não têm clareza sobre sua identidade. Retomando diversas análises do Brasil, como as feitas pelos modernistas da década de 20, pelas esquerdas e pelo Cinema Novo, Sganzerla realizou um filme que dialoga, ainda, com a produção cinematográfica identificada ao terceiro-mundismo e com a estética cinematográfica de Orson Welles e da Nouvelle vague. Assim, O bandido é um filme irônico ao tratar da identidade latino-americana, terceiro-mundista, e bastante crítico aos modelos ideológicos hegemônicos no cinema político da época.I reviewed the film The red light bandit, Rogerio Sganzerla (1968), believing that this film raises questions relevant to the study of third-world-ism, political thought that seeks to break with what would be the delay of the classical division into one of the world and 3rd world, adhering to the theories of decolonization and national liberation, from the classic division into three worlds .. The film was loosely inspired by the true story of John Acacio Pereira da Costa, and chronicles the path of Light, the villain, character angry, but unable to turn their anger into productive reaction. Glauber Rocha's conceptions that influenced the Cinema Novo was inspired by Frantz Fanon, mainly in two aspects: definition of colonialism as violence and the process of decolonization as a total transformation behavior and structure of the colonized. These ideas were developed in his text Aesthetics of Hunger. Influenced by Fanon, Glauber extended the concept of New Cinema and formulated a project of "political integration and aesthetics of cinematography in poor countries on three continents (Latin America, Africa and Asia), this project called Tricontinental Film, inspired by the revolutionary internationalism guevariano. The red light bandit establishes a close relationship (albeit critical), with the production of Glauber Rocha, a Brazilian filmmaker closer to the Nuevo Cine Latinoamericano, and whose work argued forcefully the third-world-ism and colonialism, politics and the arts. The film has several elements that we consider representative of what might be called underdevelopment, which makes us see in it a work of art within this context of artistic production and intellectual engaged in processes of resistance U.S. imperialism. The discussion about the identity was also a concern of the Cinema Novo Glauberianism and several other Latin American filmmakers. In the bandit's identity and situation of Brazil are discussed in the Latin American panorama, which is part of a broader framework, the third world. As the announcers say in the movie, nobody knows the identity of the villain. Similarly, Brazilians and Latin Americans also do not have clarity about its identity. Returning several analysis of Brazil, such as those made by the modernists of the 20s, by the left and the New Cinema, Sganzerla made a film that talks also identified with the film production to third-world-ism and the aesthetics of cinema and Orson Welles Nouvelle Vague. Thus, the villain is an ironic film as it explores Latin American identity, Third World, and quite critical of the hegemonic ideological models in political cinema of the time.62 p.porUniversidade Federal de São Paulo (UNIFESP)América LatinaTerceiro mundoTerceiro-mundismoO bandido da luz vermelhaRogério SganzerlaLatin AmericaThird WorldThird WorldismThe red light banditRogério SganzerlaCinema e Terceiro-mundismo: Luz Vermelha sobre a América LatinaFilm and Third Worldism: red light on Latin Americainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bachelorThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNIFESPinstname:Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)instacron:UNIFESPGuarulhos, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH)História11600/676892023-06-07 09:52:42.552metadata only accessoai:repositorio.unifesp.br:11600/67689Repositório InstitucionalPUBhttp://www.repositorio.unifesp.br/oai/requestopendoar:34652023-06-07T12:52:42Repositório Institucional da UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)false
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