A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penal

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Marguerite Robichez, Juliette Marie
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Pensar (Fortaleza. Online)
Texto Completo: https://ojs.unifor.br/rpen/article/view/9813
Resumo: As vicissitudes da justiça penal internacional (JPI) e, em particular, o pretendido “afrocentrismo” do Tribunal Penal Internacional (TPI), que concentraria suas atividades exclusivamente contra os ditadores africanos, são denunciadas de maneira recorrente. Se a jurisdição criminal de cunho universal, criada em 1998, não constitui a panaceia para condenar todos os dirigentes que cometem crimes internacionais, não podemos negar, todavia, o impacto positivo que ela já induziu: a sua finalidade não é julgar todos os carrascos do planeta, mas oferecer um paradigma de justiça imparcial e respeitosa das garantias processuais fundamentais e, dessa forma, estimular as jurisdições nacionais a endossar suas responsabilidades ao processar seus responsáveis por crimes de lesa-humanidade cometidos no seu território. Nesse sentido, o fato de os Estados africanos imaginarem alternativas regionais ao TPI pode ser considerado como uma contribuição positiva da JPI à luta contra a impunidade. Com a finalidade de estudar o novo fenômeno de "africanização" (no sentido definido por Achille Mbembe, de uma África percebida como laboratório vivo onde se delineiam as figuras do mundo vindouro) do direito internacional penal, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, com enfoque na literatura africana, baseada em procedimentos metodológicos comparativos e históricos, guiada por uma abordagem dedutiva amparada, notadamente no estudo de tratados e de casos jurisprudenciais internacionais. A pesquisa utiliza o escopo da teoria da interdependência complexa, defendida por R. Keohane e J. Nye, que ressalta a relevância dos atores transnacionais para estudar e compreender as relações internacionais. O primeiro tópico será consagrado às contribuições e aporias dos tribunais criminais internacionais ad hoc, em particular o Tribunal Penal Internacional para Ruanda e o Tribunal penal para a Ex-Iugoslávia e ao TPI de cunho permanente, que provocaram o movimento de africanização da JPI. O segundo examinará uma das primeiras manifestações dessa regionalização do DPI, a saber, a criação das jurisdições criminais híbridas, como o Tribunal Especial para a Serra Leoa e as Câmaras Africanas Extraordinárias. O terceiro tópico abordará a relevância da tentativa de implantação de um tribunal penal internacional africano de caráter permanente, iniciativa que visa adaptar a JPI às particularidades e aos anseios do continente negro.
id UNIFOR-3_b3d0fc143729be92f94e419272a65f9b
oai_identifier_str oai:ojs.ojs.unifor.br:article/9813
network_acronym_str UNIFOR-3
network_name_str Pensar (Fortaleza. Online)
repository_id_str
spelling A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penalAfricanização. Câmaras Africanas Extraordinárias. Regionalização. Tribunal Penal Internacional africano. Tribunais Penais Internacionais. Tribunal Especial para a Serra Leoa.As vicissitudes da justiça penal internacional (JPI) e, em particular, o pretendido “afrocentrismo” do Tribunal Penal Internacional (TPI), que concentraria suas atividades exclusivamente contra os ditadores africanos, são denunciadas de maneira recorrente. Se a jurisdição criminal de cunho universal, criada em 1998, não constitui a panaceia para condenar todos os dirigentes que cometem crimes internacionais, não podemos negar, todavia, o impacto positivo que ela já induziu: a sua finalidade não é julgar todos os carrascos do planeta, mas oferecer um paradigma de justiça imparcial e respeitosa das garantias processuais fundamentais e, dessa forma, estimular as jurisdições nacionais a endossar suas responsabilidades ao processar seus responsáveis por crimes de lesa-humanidade cometidos no seu território. Nesse sentido, o fato de os Estados africanos imaginarem alternativas regionais ao TPI pode ser considerado como uma contribuição positiva da JPI à luta contra a impunidade. Com a finalidade de estudar o novo fenômeno de "africanização" (no sentido definido por Achille Mbembe, de uma África percebida como laboratório vivo onde se delineiam as figuras do mundo vindouro) do direito internacional penal, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, com enfoque na literatura africana, baseada em procedimentos metodológicos comparativos e históricos, guiada por uma abordagem dedutiva amparada, notadamente no estudo de tratados e de casos jurisprudenciais internacionais. A pesquisa utiliza o escopo da teoria da interdependência complexa, defendida por R. Keohane e J. Nye, que ressalta a relevância dos atores transnacionais para estudar e compreender as relações internacionais. O primeiro tópico será consagrado às contribuições e aporias dos tribunais criminais internacionais ad hoc, em particular o Tribunal Penal Internacional para Ruanda e o Tribunal penal para a Ex-Iugoslávia e ao TPI de cunho permanente, que provocaram o movimento de africanização da JPI. O segundo examinará uma das primeiras manifestações dessa regionalização do DPI, a saber, a criação das jurisdições criminais híbridas, como o Tribunal Especial para a Serra Leoa e as Câmaras Africanas Extraordinárias. O terceiro tópico abordará a relevância da tentativa de implantação de um tribunal penal internacional africano de caráter permanente, iniciativa que visa adaptar a JPI às particularidades e aos anseios do continente negro.Universidade de Fortaleza2021-04-30info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionAvaliado pelos paresapplication/pdfhttps://ojs.unifor.br/rpen/article/view/981310.5020/2317-2150.2021.9813Journal of Legal Sciences; Vol. 26 No. 1 (2021)Revista de Ciencias Jurídicas; Vol. 26 Núm. 1 (2021)Pensar - Revista de Ciências Jurídicas; v. 26 n. 1 (2021)2317-21501519-8464reponame:Pensar (Fortaleza. Online)instname:Universidade de Fortaleza (UNIFOR)instacron:UNIFORporhttps://ojs.unifor.br/rpen/article/view/9813/pdfCopyright (c) 2021 Pensar - Revista de Ciências Jurídicasinfo:eu-repo/semantics/openAccessMarguerite Robichez, Juliette Marie2021-07-14T11:02:30Zoai:ojs.ojs.unifor.br:article/9813Revistahttps://periodicos.unifor.br/rpenhttp://ojs.unifor.br/index.php/rpen/oai||revistapensar@unifor.br2317-21501519-8464opendoar:2021-07-14T11:02:30Pensar (Fortaleza. Online) - Universidade de Fortaleza (UNIFOR)false
dc.title.none.fl_str_mv A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penal
title A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penal
spellingShingle A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penal
Marguerite Robichez, Juliette Marie
Africanização. Câmaras Africanas Extraordinárias. Regionalização. Tribunal Penal Internacional africano. Tribunais Penais Internacionais. Tribunal Especial para a Serra Leoa.
title_short A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penal
title_full A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penal
title_fullStr A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penal
title_full_unstemmed A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penal
title_sort A justiça penal internacional e a África: a “africanização” do direito internacional penal
author Marguerite Robichez, Juliette Marie
author_facet Marguerite Robichez, Juliette Marie
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Marguerite Robichez, Juliette Marie
dc.subject.por.fl_str_mv Africanização. Câmaras Africanas Extraordinárias. Regionalização. Tribunal Penal Internacional africano. Tribunais Penais Internacionais. Tribunal Especial para a Serra Leoa.
topic Africanização. Câmaras Africanas Extraordinárias. Regionalização. Tribunal Penal Internacional africano. Tribunais Penais Internacionais. Tribunal Especial para a Serra Leoa.
description As vicissitudes da justiça penal internacional (JPI) e, em particular, o pretendido “afrocentrismo” do Tribunal Penal Internacional (TPI), que concentraria suas atividades exclusivamente contra os ditadores africanos, são denunciadas de maneira recorrente. Se a jurisdição criminal de cunho universal, criada em 1998, não constitui a panaceia para condenar todos os dirigentes que cometem crimes internacionais, não podemos negar, todavia, o impacto positivo que ela já induziu: a sua finalidade não é julgar todos os carrascos do planeta, mas oferecer um paradigma de justiça imparcial e respeitosa das garantias processuais fundamentais e, dessa forma, estimular as jurisdições nacionais a endossar suas responsabilidades ao processar seus responsáveis por crimes de lesa-humanidade cometidos no seu território. Nesse sentido, o fato de os Estados africanos imaginarem alternativas regionais ao TPI pode ser considerado como uma contribuição positiva da JPI à luta contra a impunidade. Com a finalidade de estudar o novo fenômeno de "africanização" (no sentido definido por Achille Mbembe, de uma África percebida como laboratório vivo onde se delineiam as figuras do mundo vindouro) do direito internacional penal, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, com enfoque na literatura africana, baseada em procedimentos metodológicos comparativos e históricos, guiada por uma abordagem dedutiva amparada, notadamente no estudo de tratados e de casos jurisprudenciais internacionais. A pesquisa utiliza o escopo da teoria da interdependência complexa, defendida por R. Keohane e J. Nye, que ressalta a relevância dos atores transnacionais para estudar e compreender as relações internacionais. O primeiro tópico será consagrado às contribuições e aporias dos tribunais criminais internacionais ad hoc, em particular o Tribunal Penal Internacional para Ruanda e o Tribunal penal para a Ex-Iugoslávia e ao TPI de cunho permanente, que provocaram o movimento de africanização da JPI. O segundo examinará uma das primeiras manifestações dessa regionalização do DPI, a saber, a criação das jurisdições criminais híbridas, como o Tribunal Especial para a Serra Leoa e as Câmaras Africanas Extraordinárias. O terceiro tópico abordará a relevância da tentativa de implantação de um tribunal penal internacional africano de caráter permanente, iniciativa que visa adaptar a JPI às particularidades e aos anseios do continente negro.
publishDate 2021
dc.date.none.fl_str_mv 2021-04-30
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
Avaliado pelos pares
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://ojs.unifor.br/rpen/article/view/9813
10.5020/2317-2150.2021.9813
url https://ojs.unifor.br/rpen/article/view/9813
identifier_str_mv 10.5020/2317-2150.2021.9813
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://ojs.unifor.br/rpen/article/view/9813/pdf
dc.rights.driver.fl_str_mv Copyright (c) 2021 Pensar - Revista de Ciências Jurídicas
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Copyright (c) 2021 Pensar - Revista de Ciências Jurídicas
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de Fortaleza
publisher.none.fl_str_mv Universidade de Fortaleza
dc.source.none.fl_str_mv Journal of Legal Sciences; Vol. 26 No. 1 (2021)
Revista de Ciencias Jurídicas; Vol. 26 Núm. 1 (2021)
Pensar - Revista de Ciências Jurídicas; v. 26 n. 1 (2021)
2317-2150
1519-8464
reponame:Pensar (Fortaleza. Online)
instname:Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
instacron:UNIFOR
instname_str Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
instacron_str UNIFOR
institution UNIFOR
reponame_str Pensar (Fortaleza. Online)
collection Pensar (Fortaleza. Online)
repository.name.fl_str_mv Pensar (Fortaleza. Online) - Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
repository.mail.fl_str_mv ||revistapensar@unifor.br
_version_ 1788165788180414464