O adolescente e a internet: laços e embaraços no mundo virtual

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Prioste, Cláudia Dias
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-21052013-113556/
Resumo: Tendo em vista o amplo acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs) na sociedade contemporânea, com a promessa de um mundo virtual sem limites exercendo intenso poder de atração sobre os jovens, faz-se necessária a análise dos mecanismos ideológicos de manipulação psicológica postos em ação pela indústria cultural global no seio da subjetividade juvenil. Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar os hábitos e os interesses dos adolescentes no ciberespaço, buscando apreender os possíveis efeitos em sua constituição subjetiva. A pesquisa empírica foi dividida em duas etapas desenvolvidas simultaneamente: a primeira constou de um percurso etnográfico na cibercultura com o intuito de desvendar os interesses econômicos subjacentes aos sites frequentados pelos jovens; a segunda etapa foi realizada em uma escola pública e em uma escola privada, localizadas em um mesmo bairro de São Paulo, onde foram aplicados 108 questionários aos estudantes do último ano do Ensino Fundamental, com idade entre 13 e 16 anos, de ambos os sexos. Na escola pública, foram realizadas observações participativas nas aulas de Informática Educativa. Em ambas efetuaram-se entrevistas com alunos considerados por seus colegas como os mais conectados à internet, bem como entrevistas complementares com professores, coordenadores e diretores. A interpretação e a análise dos dados fundamentaram-se na filosofia da educação, teoria crítica e psicanálise. Constatou-se que as atividades preferidas dos adolescentes consistiam em frequentar as redes sociais, jogar, assistir a vídeos, visitar home pages de celebridades e de pornografia. Concluiu-se que os jovens são atraídos pelo ciberespaço principalmente pela possibilidade de exercitar fantasias virtuais e se sentirem aceitos pelo grupo. Entre os meninos, prevaleciam as fantasias onipotentes e sádicas, com as seguintes temáticas: o terrorista/policial, o herói/sobrenatural, o hacker/expert. Entre as meninas, eram frequentes as fantasias românticas, cujos temas principais envolviam: a amada/escolhida, a mãe/bebê, a celebridade. Observou-se que as fantasias virtuais são produzidas pela indústria audiovisual, geralmente, a partir de componentes perverso-polimórficos reeditados, identificados pelo que T. W. Adorno denominou de psicanálise às avessas. Ao se fixarem nas fantasias virtuais por meio das próteses digitais imagéticas, a capacidade dos jovens de apreensão das experiências de suas vidas sofrem alterações significativas, dificultando a reflexão sobre estas. O investimento libidinal nos dispositivos televisuais, reduzido às satisfações escopofílicas e à excitação constante dos sentidos, não contribui para a assunção epistemofílica, resultando no empobrecimento do imaginário e do simbólico. No ciberespaço os adolescentes têm seus direitos de proteção violados, uma vez que seus psiquismos ainda se encontram em desenvolvimento. Os interesses no lucro parecem prevalecer em relação a qualquer dimensão ética envolvida. Nesse contexto, a internet, ao invés de ser um importante instrumento de ampliação do conhecimento e de participação social, da maneira como tem sido utilizada, tem contribuído para a alienação e fixação em satisfações narcísicas. Assim, conclui-se ser importante não somente a inclusão digital, no sentido de apropriação das TICs nos ambientes escolares, mas também uma efetiva formação crítica dos jovens em relação às mídias, fornecendo-lhes condições para que possam refletir sobre as ficções nas quais estão inseridos.
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Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar os hábitos e os interesses dos adolescentes no ciberespaço, buscando apreender os possíveis efeitos em sua constituição subjetiva. A pesquisa empírica foi dividida em duas etapas desenvolvidas simultaneamente: a primeira constou de um percurso etnográfico na cibercultura com o intuito de desvendar os interesses econômicos subjacentes aos sites frequentados pelos jovens; a segunda etapa foi realizada em uma escola pública e em uma escola privada, localizadas em um mesmo bairro de São Paulo, onde foram aplicados 108 questionários aos estudantes do último ano do Ensino Fundamental, com idade entre 13 e 16 anos, de ambos os sexos. Na escola pública, foram realizadas observações participativas nas aulas de Informática Educativa. Em ambas efetuaram-se entrevistas com alunos considerados por seus colegas como os mais conectados à internet, bem como entrevistas complementares com professores, coordenadores e diretores. A interpretação e a análise dos dados fundamentaram-se na filosofia da educação, teoria crítica e psicanálise. Constatou-se que as atividades preferidas dos adolescentes consistiam em frequentar as redes sociais, jogar, assistir a vídeos, visitar home pages de celebridades e de pornografia. Concluiu-se que os jovens são atraídos pelo ciberespaço principalmente pela possibilidade de exercitar fantasias virtuais e se sentirem aceitos pelo grupo. Entre os meninos, prevaleciam as fantasias onipotentes e sádicas, com as seguintes temáticas: o terrorista/policial, o herói/sobrenatural, o hacker/expert. Entre as meninas, eram frequentes as fantasias românticas, cujos temas principais envolviam: a amada/escolhida, a mãe/bebê, a celebridade. Observou-se que as fantasias virtuais são produzidas pela indústria audiovisual, geralmente, a partir de componentes perverso-polimórficos reeditados, identificados pelo que T. W. Adorno denominou de psicanálise às avessas. Ao se fixarem nas fantasias virtuais por meio das próteses digitais imagéticas, a capacidade dos jovens de apreensão das experiências de suas vidas sofrem alterações significativas, dificultando a reflexão sobre estas. O investimento libidinal nos dispositivos televisuais, reduzido às satisfações escopofílicas e à excitação constante dos sentidos, não contribui para a assunção epistemofílica, resultando no empobrecimento do imaginário e do simbólico. No ciberespaço os adolescentes têm seus direitos de proteção violados, uma vez que seus psiquismos ainda se encontram em desenvolvimento. Os interesses no lucro parecem prevalecer em relação a qualquer dimensão ética envolvida. Nesse contexto, a internet, ao invés de ser um importante instrumento de ampliação do conhecimento e de participação social, da maneira como tem sido utilizada, tem contribuído para a alienação e fixação em satisfações narcísicas. Assim, conclui-se ser importante não somente a inclusão digital, no sentido de apropriação das TICs nos ambientes escolares, mas também uma efetiva formação crítica dos jovens em relação às mídias, fornecendo-lhes condições para que possam refletir sobre as ficções nas quais estão inseridos.In light of the wide access to the information and communication technologies (ICT) in the contemporary society, which by promising limitless virtual world exert strong power of attraction on the young people, we consider it is necessary to analyze the ideological mechanisms of psychological manipulation in action by the global culture industry in young subjectivity. Thus, the present study aimed to identify the adolescent habits and interests in cyberspace in order to understand the possible consequences in their subjective constitution. This empirical research was divided into two phases performed simultaneously: the first one was composed by an ethnographic journey through cyberculture, aiming to find out the economic interests behind the sites most visited by the adolescents; the second phase was carried out in one public and one private school placed in the same neighborhood in São Paulo, where 108 questionnaires were applied to the 13 to 16-year-old boys and girls students in the last year of Secondary School. In the public school, participant observation was the approach used in the Educational Computing classes. Interviews were done in both schools with the students known as the most connected to the internet as well as additional interviews with the teachers, coordinators, and principals. Data interpretation and analysis were based on philosophy of education, critical theory and psychoanalysis. We have found that the adolescent favorite activities consisted of frequently going to social networks, playing games, watching videos, visiting celebrities home pages and pornography. We concluded that the adolescents are mainly attracted to cyberspace for their possibility to exercise virtual fantasies and feel accepted by their group. Among the boys prevailed omnipotent and sadistic fantasies with the following thematic features: the terrorist/policeman, the hero/supernatural, the hacker/expert. Among the girls, romantic fantasies were usual and involved mainly these themes: the beloved/chosen, the mother/baby, the celebrity. We noticed that the virtual fantasies are produced by the audiovisual industry generally out of perverse-polymorphic components reedited, identified by T.W. Adorno as psychoanalysis in reverse. When the adolescents get fixed to virtual fantasies by means of imagetic digital prostheses, their capacity of apprehending their own experiences in life suffers significant changes, hindering their reflection about them. The libidinal investment in televisual devices, reduced to scopophiliac gratification and constant excitement of the senses, doesnt contribute to the epistemophilic assumption - which results in imaginary and symbolic impoverishing. In cyberspace the adolescents have their protection rights violated since their psychism are still in process of development. Interests in making money seem to prevail over any ethical dimension involved. In this context, rather than being an important instrument to expand knowledge and social participation, the way the internet has being used it has contributed to the alienation and fixation in narcissistic gratification. Therefore, we have concluded that digital inclusion is important - meaning ICTs appropriation in the school environment - but also young peoples effective critical thinking formation with regard to the media, in order to offer them conditions to reflect about the fictions where they are inserted in.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPAmaral, Monica Guimaraes Teixeira doPrioste, Cláudia Dias2013-03-22info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-21052013-113556/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:36Zoai:teses.usp.br:tde-21052013-113556Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:36Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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description Tendo em vista o amplo acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs) na sociedade contemporânea, com a promessa de um mundo virtual sem limites exercendo intenso poder de atração sobre os jovens, faz-se necessária a análise dos mecanismos ideológicos de manipulação psicológica postos em ação pela indústria cultural global no seio da subjetividade juvenil. Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar os hábitos e os interesses dos adolescentes no ciberespaço, buscando apreender os possíveis efeitos em sua constituição subjetiva. A pesquisa empírica foi dividida em duas etapas desenvolvidas simultaneamente: a primeira constou de um percurso etnográfico na cibercultura com o intuito de desvendar os interesses econômicos subjacentes aos sites frequentados pelos jovens; a segunda etapa foi realizada em uma escola pública e em uma escola privada, localizadas em um mesmo bairro de São Paulo, onde foram aplicados 108 questionários aos estudantes do último ano do Ensino Fundamental, com idade entre 13 e 16 anos, de ambos os sexos. Na escola pública, foram realizadas observações participativas nas aulas de Informática Educativa. Em ambas efetuaram-se entrevistas com alunos considerados por seus colegas como os mais conectados à internet, bem como entrevistas complementares com professores, coordenadores e diretores. A interpretação e a análise dos dados fundamentaram-se na filosofia da educação, teoria crítica e psicanálise. Constatou-se que as atividades preferidas dos adolescentes consistiam em frequentar as redes sociais, jogar, assistir a vídeos, visitar home pages de celebridades e de pornografia. Concluiu-se que os jovens são atraídos pelo ciberespaço principalmente pela possibilidade de exercitar fantasias virtuais e se sentirem aceitos pelo grupo. Entre os meninos, prevaleciam as fantasias onipotentes e sádicas, com as seguintes temáticas: o terrorista/policial, o herói/sobrenatural, o hacker/expert. Entre as meninas, eram frequentes as fantasias românticas, cujos temas principais envolviam: a amada/escolhida, a mãe/bebê, a celebridade. Observou-se que as fantasias virtuais são produzidas pela indústria audiovisual, geralmente, a partir de componentes perverso-polimórficos reeditados, identificados pelo que T. W. Adorno denominou de psicanálise às avessas. Ao se fixarem nas fantasias virtuais por meio das próteses digitais imagéticas, a capacidade dos jovens de apreensão das experiências de suas vidas sofrem alterações significativas, dificultando a reflexão sobre estas. O investimento libidinal nos dispositivos televisuais, reduzido às satisfações escopofílicas e à excitação constante dos sentidos, não contribui para a assunção epistemofílica, resultando no empobrecimento do imaginário e do simbólico. No ciberespaço os adolescentes têm seus direitos de proteção violados, uma vez que seus psiquismos ainda se encontram em desenvolvimento. Os interesses no lucro parecem prevalecer em relação a qualquer dimensão ética envolvida. Nesse contexto, a internet, ao invés de ser um importante instrumento de ampliação do conhecimento e de participação social, da maneira como tem sido utilizada, tem contribuído para a alienação e fixação em satisfações narcísicas. Assim, conclui-se ser importante não somente a inclusão digital, no sentido de apropriação das TICs nos ambientes escolares, mas também uma efetiva formação crítica dos jovens em relação às mídias, fornecendo-lhes condições para que possam refletir sobre as ficções nas quais estão inseridos.
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