Será Huckleberry Finn mesmo um romance racista?: uma análise da obra, de algumas de suas traduções e do discurso racial no século XIX em narrativas sobre escravos sob a luz da Linguística de Corpus

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ramos, Vera Lúcia
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8160/tde-03092018-131140/
Resumo: Adventures of Huckleberry Finn (1884) de Mark Twain (1835-1910) tem estado de modo frequente na berlinda. Em cada época, desde o seu lançamento, a proibição da obra, nas bibliotecas e escolas, foi motivada pelas temáticas tratadas, pelos dialetos criados ou pela reiteração da palavra nigger(s). No Brasil, as traduções da obra fazem parte do nosso Polissistema Literário de Tradução desde 1934 (Monteiro Lobato). Visto que a obra foi lançada há mais de cem anos, muitos têm se dedicado a ela, a fim de discutir suas principais controvérsias. Esta pesquisa visa a apresentar algo diferente na forma de analisar os dados da obra e de quatro de suas traduções. Para tanto, elegeu-se a Linguística de Corpus (LC) como metodologia e principal abordagem, pois a LC oferece a possibilidade de investigar uma grande quantidade de dados por meio eletrônico (WordSmith Tools, Scott, 2006), assegura precisão na apresentação das informações, e também mostra dados não detectados a olho nu pelo analista. Dessa forma, esta pesquisa apresenta um estudo dirigido pelo corpus embasado na lista de palavras-chave que detectou nigger(s) como a palavra mais relevante. A partir desse dado, delineou-se o objetivo geral do estudo que é verificar a importância que o termo nigger(s) assume na caracterização dos negros em Huckleberry Finn por meio do discurso racial, investigando o campo semântico racismo/escravidão. Para tanto, julgou-se necessário buscar na literatura de língua inglesa obras do século XIX (nove narrativas sobre escravos) que também empregaram o termo nigger(s), a fim de comparar as narrativas e a obra de Twain e verificar (des)semelhanças na construção do discurso racial. Por ser nigger um termo culturalmente marcado e os tradutores brasileiros o traduzirem por um vocábulo neutro (negro ou escravo), decidiu-se investigar obras brasileiras do século XIX (em número de seis) sobre a escravidão, a fim de entender a (não) existência de um vocábulo que se aproxime da carga semântica de nigger, com o intuito de confrontar os termos usados pelos autores brasileiros com aqueles usados pelos tradutores. Assim sendo, a tese a ser demonstrada é que Huckleberry Finn, embora use nigger(s) reiteradamente, caracteriza os negros de forma positiva, subvertendo o discurso racial, e emprega nigger(s) com o fim de mostrar como a sociedade estadunidense do século XIX tratava os negros de forma negativa. As obras brasileiras analisadas revelaram um termo para representar os negros, crioulo, cuja prosódia é negativa; porém os tradutores não fazem uso desse termo, possivelmente pelo fato de as normas do nosso Polissistema Literário, ligadas ao grau de aceitabilidade (TOURY, 1995) da tradução, imporem uma reescritura consoante com o discurso politicamente correto de nossos dias. Esta tese ainda tem o papel de mostrar a contribuição inestimável da LC para os estudos literários, uma vez que foi possível, por meio das linhas de concordância, apresentar análises impraticáveis de serem realizadas sem tal metodologia, em função da exiguidade do tempo da pesquisa (quatro anos), do número de obras analisadas (vinte) e do recorte escolhido, o campo semântico, difícil de ser investigado a olho nu.
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spelling Será Huckleberry Finn mesmo um romance racista?: uma análise da obra, de algumas de suas traduções e do discurso racial no século XIX em narrativas sobre escravos sob a luz da Linguística de CorpusIs Huckleberry Finn really a racist novel?: an analysis of the work, some of its translations and racial discourse in the XIXth century narratives on slaves in the light of Corpus LinguisticsAdventures of Huckleberry FinnCorpus Linguistics (CL)Discurso racialHuckleberry FinnLinguística de Corpus (LC)Literary polysystemNigger(s)Nigger(s)Polissistema literárioRacial discourseTraduçãoTranslationAdventures of Huckleberry Finn (1884) de Mark Twain (1835-1910) tem estado de modo frequente na berlinda. Em cada época, desde o seu lançamento, a proibição da obra, nas bibliotecas e escolas, foi motivada pelas temáticas tratadas, pelos dialetos criados ou pela reiteração da palavra nigger(s). No Brasil, as traduções da obra fazem parte do nosso Polissistema Literário de Tradução desde 1934 (Monteiro Lobato). Visto que a obra foi lançada há mais de cem anos, muitos têm se dedicado a ela, a fim de discutir suas principais controvérsias. Esta pesquisa visa a apresentar algo diferente na forma de analisar os dados da obra e de quatro de suas traduções. Para tanto, elegeu-se a Linguística de Corpus (LC) como metodologia e principal abordagem, pois a LC oferece a possibilidade de investigar uma grande quantidade de dados por meio eletrônico (WordSmith Tools, Scott, 2006), assegura precisão na apresentação das informações, e também mostra dados não detectados a olho nu pelo analista. Dessa forma, esta pesquisa apresenta um estudo dirigido pelo corpus embasado na lista de palavras-chave que detectou nigger(s) como a palavra mais relevante. A partir desse dado, delineou-se o objetivo geral do estudo que é verificar a importância que o termo nigger(s) assume na caracterização dos negros em Huckleberry Finn por meio do discurso racial, investigando o campo semântico racismo/escravidão. Para tanto, julgou-se necessário buscar na literatura de língua inglesa obras do século XIX (nove narrativas sobre escravos) que também empregaram o termo nigger(s), a fim de comparar as narrativas e a obra de Twain e verificar (des)semelhanças na construção do discurso racial. Por ser nigger um termo culturalmente marcado e os tradutores brasileiros o traduzirem por um vocábulo neutro (negro ou escravo), decidiu-se investigar obras brasileiras do século XIX (em número de seis) sobre a escravidão, a fim de entender a (não) existência de um vocábulo que se aproxime da carga semântica de nigger, com o intuito de confrontar os termos usados pelos autores brasileiros com aqueles usados pelos tradutores. Assim sendo, a tese a ser demonstrada é que Huckleberry Finn, embora use nigger(s) reiteradamente, caracteriza os negros de forma positiva, subvertendo o discurso racial, e emprega nigger(s) com o fim de mostrar como a sociedade estadunidense do século XIX tratava os negros de forma negativa. As obras brasileiras analisadas revelaram um termo para representar os negros, crioulo, cuja prosódia é negativa; porém os tradutores não fazem uso desse termo, possivelmente pelo fato de as normas do nosso Polissistema Literário, ligadas ao grau de aceitabilidade (TOURY, 1995) da tradução, imporem uma reescritura consoante com o discurso politicamente correto de nossos dias. Esta tese ainda tem o papel de mostrar a contribuição inestimável da LC para os estudos literários, uma vez que foi possível, por meio das linhas de concordância, apresentar análises impraticáveis de serem realizadas sem tal metodologia, em função da exiguidade do tempo da pesquisa (quatro anos), do número de obras analisadas (vinte) e do recorte escolhido, o campo semântico, difícil de ser investigado a olho nu.Adventures of Huckleberry Finn (1884), written by Mark Twain (1835-1910), has been frequently in the spotlight. Since it was published, the prohibition to use the book imposed on libraries and schools has been caused by the issues Twain addressed, the dialects he created and his repeated use of the word nigger(s).The translations of Huckleberry Finn have been part of Brazils Translation Literary Polysystem since 1934, when a Portuguese version was published by Monteiro Lobato. Given that Mark Twains work came out more than one hundred years ago, many people have dedicated themselves to studying it in order to discuss its main controversial topics. The purpose of our research is to propose a different manner of analyzing Huckleberry Finns data and four of its translations into Portuguese. To that end, we have chosen Corpus Linguistics (CL) as our work methodology and main approach, because it offers the possibility of investigating a large amount of data by electronic tools (WordSmith Tools, Scott, 2006) which ensures the accuracy of the information presented by the analyst and shows data not detected with the naked eye. Therefore, this research consists of a corpus-driven study grounded in a list of key words, which revealed that the most relevant word was nigger(s) These data have allowed us to set the overall purpose of the study, namely to find out the importance of the word nigger(s) for Mark Twains depiction of the Black characters of Huckleberry Finn in his racial discourse, through our exploration of the racism/slavery semantic field. For that purpose, we found it necessary to search for works in English Literature written in the 19th century (nine narratives on slaves) that also used the word nigger(s). The purpose was to compare those narratives with Twains novel and check for similarities and differences in their construction of racial discourse. Because nigger is a culturally marked word and Brazilian translators use a neuter word to translate it (negro or escravo) we decided to dig into Brazilian works on slavery written in the 19th century (six of them) in order to understand the (in)existence of a word whose semantic content approximates that of the word nigger and to contrast the words used by Brazilian authors against those used by translators. The Brazilian works that we analyzed have revealed a word used to depict Black people, crioulo, which has a negative prosody; however, translators do not use this word, maybe because the standards of Brazils Literary Polysystem, linked to the translations level of acceptability (TOURY, 1995) impose a rewriting in tune with the current politically correct discourse. This PhD dissertation also aims at showing the remarkable contribution of Corpus Linguistics to literary studies, given that concordance lines have allowed us to carry out analyses that would have been impossible if this methodology had not been applied, considering the little time we had for conducting the research (four years), the number of literary works we examined (twenty) and the semantic field, which cannot be investigated with the naked eye.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPTagnin, Stella Esther OrtweilerRamos, Vera Lúcia2018-03-27info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8160/tde-03092018-131140/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2018-10-03T01:45:28Zoai:teses.usp.br:tde-03092018-131140Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212018-10-03T01:45:28Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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