O estigma da deficiência física e o paradigma da reconstrução biocibernética do corpo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2013 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-10022014-111556/ |
Resumo: | Tanto a paralisia quanto a amputação são características corporais que tendem a resultar em estigma, ou seja, a mera percepção de sua existência pode depreciar a identidade social daquele que a tem. Entretanto, o surgimento de tecnologias prostéticas que habilitam amputados a competirem em nível olímpico contra pessoas sem deficiência tem produzido reações que contrariam a regra geral segundo a qual se evita expor aquilo que causa estigma. Mais do que isso, vem ganhando cada vez mais projeção midiática a imagem de amputados estereotipados como a realização do sonho do ciborgue: o corpo orgânico potencializado pela sua hibridação com sistemas cibernéticos. No bojo desse imaginário, a tecnologia do exoesqueleto robótico, derivada da indústria bélica, emerge como a solução que promete reestabelecer os movimentos de pessoas com lesão medular. Porém, a obsessão em encapsulá-los dentro de corpos robóticos supranumerários, em detrimento de outras tecnologias e terapias, parece muito mais motivada pelo simbolismo de um bipedismo simulado, que busca apagar a diferença entre os deficientes e os normais, do que pela reabilitação efetiva. A deficiência física e as tecnologias biocibernéticas de reconstrução e reabilitação corporais expõem não só a dimensão social irredutível do corpo, como também evidenciam que mesmo na mentalidade técnico-científica opera uma lógica simbólica, disfarçada nos recortes e classificações supostamente objetivos. Não é por acaso que a restauração do bipedismo em pessoas com paralisia tenha tanta afinidade com a imagem do milagre bíblico, pois o corpo-máquina, do qual a biocibernética é a evolução, e o corpo da cosmologia cristã, oriundo da Idade Média, não são completamente excludentes. De fato, apesar de constituírem sistemas de significação antagônicos, ambas as concepções de corpo compartilham as mesmas estruturas simbólicas inconscientes e, acima de tudo, atendem ao mesmo imperativo de dar sentido a uma realidade que a razão por si só não explica na sua totalidade. É sobre estes temas que esta tese procura refletir. |
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O estigma da deficiência física e o paradigma da reconstrução biocibernética do corpoPhysical disability and the bodys bio-cybernetics reconstruction paradigmCiberculturaCibernéticaCorpo humanoCyber-cultureCyberneticsDeficiência-físicaEstigmaHuman bodyPhysical disabilityStigmaTanto a paralisia quanto a amputação são características corporais que tendem a resultar em estigma, ou seja, a mera percepção de sua existência pode depreciar a identidade social daquele que a tem. Entretanto, o surgimento de tecnologias prostéticas que habilitam amputados a competirem em nível olímpico contra pessoas sem deficiência tem produzido reações que contrariam a regra geral segundo a qual se evita expor aquilo que causa estigma. Mais do que isso, vem ganhando cada vez mais projeção midiática a imagem de amputados estereotipados como a realização do sonho do ciborgue: o corpo orgânico potencializado pela sua hibridação com sistemas cibernéticos. No bojo desse imaginário, a tecnologia do exoesqueleto robótico, derivada da indústria bélica, emerge como a solução que promete reestabelecer os movimentos de pessoas com lesão medular. Porém, a obsessão em encapsulá-los dentro de corpos robóticos supranumerários, em detrimento de outras tecnologias e terapias, parece muito mais motivada pelo simbolismo de um bipedismo simulado, que busca apagar a diferença entre os deficientes e os normais, do que pela reabilitação efetiva. A deficiência física e as tecnologias biocibernéticas de reconstrução e reabilitação corporais expõem não só a dimensão social irredutível do corpo, como também evidenciam que mesmo na mentalidade técnico-científica opera uma lógica simbólica, disfarçada nos recortes e classificações supostamente objetivos. Não é por acaso que a restauração do bipedismo em pessoas com paralisia tenha tanta afinidade com a imagem do milagre bíblico, pois o corpo-máquina, do qual a biocibernética é a evolução, e o corpo da cosmologia cristã, oriundo da Idade Média, não são completamente excludentes. De fato, apesar de constituírem sistemas de significação antagônicos, ambas as concepções de corpo compartilham as mesmas estruturas simbólicas inconscientes e, acima de tudo, atendem ao mesmo imperativo de dar sentido a uma realidade que a razão por si só não explica na sua totalidade. É sobre estes temas que esta tese procura refletir.Both paralysis and amputation are body characteristics that tend to result in stigma, which means, in other words, that the mere perception of their existence may depreciate the social identity of those who have these traits. However, the emergence of prosthetic technologies enabling amputees to compete at the Olympic level against people without disabilities are provoking reactions that contradict the general rule pursuant to which one usually avoids exposing characteristics that cause stigma. Moreover, amputees stereotyped images have been increasingly reaching more media exposure as a cyborg dream that comes true: the organic body enhanced through its hybridization by means of cybernetic systems. In the midst of this imagery, the robotic exoskeleton technology derived from military industry emerges as a solution that promises to reestablish the movements of persons with spinal cord injuries. However, the obsession with their encapsulation inside supernumerary robotic bodies, to the detriment of other technologies and therapies, seems more driven by the symbolism of a simulated bipedalism, which aims to erase the differences between disabled and normal person, than actual rehabilitation. The physical disability and the bio-cybernetic technologies applied to the bodys rehabilitation and reconstruction, expose, not only the irreducible social dimension of the body, but also demonstrate that even the technical and scientific thinking operates under a symbolic logic, disguised under a presumably objective selective set of scopes and classifications. It is not a coincidence that bipedal restoration of persons with paralysis is close to the biblical miracle imagery, since the body-machine from which bio-cybernetics is the evolution, and the body of Christian cosmology rooted in the Middle Age, are not completely exclusionary. In fact, although they constitute antagonistic meaning systems, both concepts of the body share the same unconscious symbolic structures and, above all, they fulfill the same imperative of giving meaning to a reality that cannot be explained in its entirety only by reason. It is to this regard that this thesis will reflect.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPNovaes, Sylvia Maria CaiubyKim, Joon Ho2013-12-06info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-10022014-111556/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:02Zoai:teses.usp.br:tde-10022014-111556Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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