O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullying

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Paula, Thaís Silva Marinheiro de
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59140/tde-20102023-083926/
Resumo: Ao considerarmos o aumento do percentual de casos de bullying dentro do espaço escolar, é imprescindível buscar conhecer mais sobre essa prática violenta, visto que, de acordo com os estudos de Fante (2011), o bullying é caracterizado como uma violência intimidadora, repetitiva e consciente com o intuito de levar medo à sua vítima de modo que essa prática tem poder destrutivo e perigoso à comunidade escolar e à sociedade. Sendo assim, entendemos que as ocorrências de bullying são/estão diretamente relacionadas com a agressão ao outro, seja física ou verbal. Com base no corpus desta pesquisa, interpretamos que estamos diante de uma violência em que o agressor atribui um olhar classificatório ao corpo de sua vítima, na busca de alguma característica, ligada, ou não, aos padrões de beleza corporais, que possa ser motivo de zombaria. Desta forma, damos ênfase aqui ao corpo vítima de violência, corpo julgado, subjugado, corpo que ganha sentidos de inferiorização pelo olhar do outro. Nessa perspectiva, podemos compreender as relações de poder, de modo que o bullying pode ser considerado uma forma de olhar que julga e incentiva a (in)visibilidade do outro; podemos compreender, ainda, que é no espaço escolar que o bullying se constitui por meio do olhar social, ou seja, do olhar do agressor mediante sua vítima, que pode ser determinado, muitas vezes, pela aparência daquele que é agredido. Partimos da consideração de que o Ensino Fundamental é o período em que são discursivizados com maior frequência os ataques de bullying, porém, para esta pesquisa, acreditamos que tanto a vítima de bullying quanto o agressor crescem e dão seguimento aos estudos, desta maneira, questionamo-nos quanto a esse corpo violado, cindido, ressignificado pela violência, e, dessa forma, objetivamos analisar, por meio de um questionário semiestruturado, o discurso de 33 alunos de Ensino Médio de uma escola pública do interior do estado de São Paulo que foram vítimas de bullying durante o Ensino Fundamental, bem como as marcas corporais discursivizadas pelos sujeitos-vítimas, que foram inscritas em seus corpos por essa violência. Para este trabalho, a metodologia requer instrumentos que sejam capazes de analisar sentidos não ditos, então, o método escolhido foi o paradigma indiciário de Ginzburg (1989), o qual propõe um método interpretativo. Para embasar esta pesquisa, os pressupostos teóricos utilizados sustentam-se na Análise de Discurso pecheuxtiana que será de suma importância para conceituar sujeito, discurso e processos discursivos (PÊCHEUX, 2009), (ORLANDI, 2001, 2016), e corpo (COURTINE, 2011, 2013), (FERREIRA, 2003, 2007), (HAROCHE, 2018). Como resultado, compreendemos o bullying como uma violência institucional que silencia sua vítima e ainda é naturalizada como brincadeira, quando, na verdade, é uma não-brincadeira. Pelas análises, interpretamos que o bullying produz uma ressignificação da singularidade do sujeito e, com isso, há a ressignificação desse corpo. O que nos permite concluir que, enquanto as instituições escolares não olharem para essa prática como uma violência que é singular para cada sujeito-aluno, o bullying encontrará terreno fértil para se instaurar cada vez mais nas escolas, naturalizado e disfarçado de brincadeira.
id USP_d8ce21c3a22ba8479dd930095710f2f2
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-20102023-083926
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullyingThe body (re)signification: discourses of students victims of bullyingBullyingBodyBullyingCorpoDiscourseDiscursoEnsino médioMiddle schoolSingularidadeSingularityAo considerarmos o aumento do percentual de casos de bullying dentro do espaço escolar, é imprescindível buscar conhecer mais sobre essa prática violenta, visto que, de acordo com os estudos de Fante (2011), o bullying é caracterizado como uma violência intimidadora, repetitiva e consciente com o intuito de levar medo à sua vítima de modo que essa prática tem poder destrutivo e perigoso à comunidade escolar e à sociedade. Sendo assim, entendemos que as ocorrências de bullying são/estão diretamente relacionadas com a agressão ao outro, seja física ou verbal. Com base no corpus desta pesquisa, interpretamos que estamos diante de uma violência em que o agressor atribui um olhar classificatório ao corpo de sua vítima, na busca de alguma característica, ligada, ou não, aos padrões de beleza corporais, que possa ser motivo de zombaria. Desta forma, damos ênfase aqui ao corpo vítima de violência, corpo julgado, subjugado, corpo que ganha sentidos de inferiorização pelo olhar do outro. Nessa perspectiva, podemos compreender as relações de poder, de modo que o bullying pode ser considerado uma forma de olhar que julga e incentiva a (in)visibilidade do outro; podemos compreender, ainda, que é no espaço escolar que o bullying se constitui por meio do olhar social, ou seja, do olhar do agressor mediante sua vítima, que pode ser determinado, muitas vezes, pela aparência daquele que é agredido. Partimos da consideração de que o Ensino Fundamental é o período em que são discursivizados com maior frequência os ataques de bullying, porém, para esta pesquisa, acreditamos que tanto a vítima de bullying quanto o agressor crescem e dão seguimento aos estudos, desta maneira, questionamo-nos quanto a esse corpo violado, cindido, ressignificado pela violência, e, dessa forma, objetivamos analisar, por meio de um questionário semiestruturado, o discurso de 33 alunos de Ensino Médio de uma escola pública do interior do estado de São Paulo que foram vítimas de bullying durante o Ensino Fundamental, bem como as marcas corporais discursivizadas pelos sujeitos-vítimas, que foram inscritas em seus corpos por essa violência. Para este trabalho, a metodologia requer instrumentos que sejam capazes de analisar sentidos não ditos, então, o método escolhido foi o paradigma indiciário de Ginzburg (1989), o qual propõe um método interpretativo. Para embasar esta pesquisa, os pressupostos teóricos utilizados sustentam-se na Análise de Discurso pecheuxtiana que será de suma importância para conceituar sujeito, discurso e processos discursivos (PÊCHEUX, 2009), (ORLANDI, 2001, 2016), e corpo (COURTINE, 2011, 2013), (FERREIRA, 2003, 2007), (HAROCHE, 2018). Como resultado, compreendemos o bullying como uma violência institucional que silencia sua vítima e ainda é naturalizada como brincadeira, quando, na verdade, é uma não-brincadeira. Pelas análises, interpretamos que o bullying produz uma ressignificação da singularidade do sujeito e, com isso, há a ressignificação desse corpo. O que nos permite concluir que, enquanto as instituições escolares não olharem para essa prática como uma violência que é singular para cada sujeito-aluno, o bullying encontrará terreno fértil para se instaurar cada vez mais nas escolas, naturalizado e disfarçado de brincadeira.When considering the increase in the percentage of bullying cases within the school environment, it is essential to seek further knowledge about this violent practice. According to Fante\'s studies (2011), bullying is characterized as intimidating, repetitive, and conscious violence intended to instill fear in its victim. This practice has a destructive and dangerous impact on the school community and society as a whole. Therefore, we understand that bullying incidents are directly related to aggression towards others, whether physical or verbal. Based on the corpus of this research, we interpret that we are facing a type of violence in which the aggressor attributes a classifying gaze to the victim\'s body, seeking some characteristic, related or not to body beauty standards, that can be a reason for mockery. Thus, we emphasize here the victim\'s body subjected to violence, a judged body, a body that gains a sense of inferiority through the gaze of others. From this perspective, we can understand power relations, where bullying can be seen as a way of looking that judges and promotes the (in)visibility of others. Furthermore, we can understand that bullying manifests itself in the school environment through social gaze, that is, through the gaze of the aggressor towards the victim, often determined by the appearance of the person being targeted. We start from the consideration that the elementary school years are when bullying attacks are most frequently discursivized. However, for this research, we believe that both bullying victims and aggressors grow up and continue their studies. Therefore, we question ourselves about this violated and divided body, reshaped by violence. Thus, our objective is to analyze, through a semi-structured questionnaire, the discourse of 33 high school students from a public school in the countryside of São Paulo state who were victims of bullying during their elementary school years. We also aim to examine the corporal marks discursively expressed by the victim-subjects, which were inscribed on their bodies by this violence. For this study, the methodology requires instruments capable of analyzing unsaid meanings. Therefore, the chosen method is Ginzburg\'s (1989) indicial paradigm, which proposes an interpretative approach. The theoretical framework used to support this research is anchored in Pecheuxian Discourse Analysis, which will be of utmost importance in conceptualizing the subject, discourse, and discursive processes (PÊCHEUX, 2009), (ORLANDI, 2001, 2016), as well as the body (COURTINE, 2011, 2013), (FERREIRA, 2003, 2007), (HAROCHE, 2018). As a result, we understand bullying as an institutional violence that silences its victim and is still normalized as a joke when, in fact, it is not. Through our analysis, we interpret that bullying produces a redefinition of the subject\'s singularity, leading to a redefinition of the body itself. This allows us to conclude that as long as educational institutions do not regard this practice as a form of violence that is unique to each student-subject, bullying will find fertile ground to increasingly establish itself in schools, disguised and normalized as a joke.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPacifico, Soraya Maria RomanoPaula, Thaís Silva Marinheiro de2023-08-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59140/tde-20102023-083926/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-12-20T14:39:03Zoai:teses.usp.br:tde-20102023-083926Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-20T14:39:03Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullying
The body (re)signification: discourses of students victims of bullying
title O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullying
spellingShingle O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullying
Paula, Thaís Silva Marinheiro de
Bullying
Body
Bullying
Corpo
Discourse
Discurso
Ensino médio
Middle school
Singularidade
Singularity
title_short O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullying
title_full O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullying
title_fullStr O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullying
title_full_unstemmed O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullying
title_sort O corpo (re)significado: discursos de alunos vítimas de bullying
author Paula, Thaís Silva Marinheiro de
author_facet Paula, Thaís Silva Marinheiro de
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Pacifico, Soraya Maria Romano
dc.contributor.author.fl_str_mv Paula, Thaís Silva Marinheiro de
dc.subject.por.fl_str_mv Bullying
Body
Bullying
Corpo
Discourse
Discurso
Ensino médio
Middle school
Singularidade
Singularity
topic Bullying
Body
Bullying
Corpo
Discourse
Discurso
Ensino médio
Middle school
Singularidade
Singularity
description Ao considerarmos o aumento do percentual de casos de bullying dentro do espaço escolar, é imprescindível buscar conhecer mais sobre essa prática violenta, visto que, de acordo com os estudos de Fante (2011), o bullying é caracterizado como uma violência intimidadora, repetitiva e consciente com o intuito de levar medo à sua vítima de modo que essa prática tem poder destrutivo e perigoso à comunidade escolar e à sociedade. Sendo assim, entendemos que as ocorrências de bullying são/estão diretamente relacionadas com a agressão ao outro, seja física ou verbal. Com base no corpus desta pesquisa, interpretamos que estamos diante de uma violência em que o agressor atribui um olhar classificatório ao corpo de sua vítima, na busca de alguma característica, ligada, ou não, aos padrões de beleza corporais, que possa ser motivo de zombaria. Desta forma, damos ênfase aqui ao corpo vítima de violência, corpo julgado, subjugado, corpo que ganha sentidos de inferiorização pelo olhar do outro. Nessa perspectiva, podemos compreender as relações de poder, de modo que o bullying pode ser considerado uma forma de olhar que julga e incentiva a (in)visibilidade do outro; podemos compreender, ainda, que é no espaço escolar que o bullying se constitui por meio do olhar social, ou seja, do olhar do agressor mediante sua vítima, que pode ser determinado, muitas vezes, pela aparência daquele que é agredido. Partimos da consideração de que o Ensino Fundamental é o período em que são discursivizados com maior frequência os ataques de bullying, porém, para esta pesquisa, acreditamos que tanto a vítima de bullying quanto o agressor crescem e dão seguimento aos estudos, desta maneira, questionamo-nos quanto a esse corpo violado, cindido, ressignificado pela violência, e, dessa forma, objetivamos analisar, por meio de um questionário semiestruturado, o discurso de 33 alunos de Ensino Médio de uma escola pública do interior do estado de São Paulo que foram vítimas de bullying durante o Ensino Fundamental, bem como as marcas corporais discursivizadas pelos sujeitos-vítimas, que foram inscritas em seus corpos por essa violência. Para este trabalho, a metodologia requer instrumentos que sejam capazes de analisar sentidos não ditos, então, o método escolhido foi o paradigma indiciário de Ginzburg (1989), o qual propõe um método interpretativo. Para embasar esta pesquisa, os pressupostos teóricos utilizados sustentam-se na Análise de Discurso pecheuxtiana que será de suma importância para conceituar sujeito, discurso e processos discursivos (PÊCHEUX, 2009), (ORLANDI, 2001, 2016), e corpo (COURTINE, 2011, 2013), (FERREIRA, 2003, 2007), (HAROCHE, 2018). Como resultado, compreendemos o bullying como uma violência institucional que silencia sua vítima e ainda é naturalizada como brincadeira, quando, na verdade, é uma não-brincadeira. Pelas análises, interpretamos que o bullying produz uma ressignificação da singularidade do sujeito e, com isso, há a ressignificação desse corpo. O que nos permite concluir que, enquanto as instituições escolares não olharem para essa prática como uma violência que é singular para cada sujeito-aluno, o bullying encontrará terreno fértil para se instaurar cada vez mais nas escolas, naturalizado e disfarçado de brincadeira.
publishDate 2023
dc.date.none.fl_str_mv 2023-08-29
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59140/tde-20102023-083926/
url https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59140/tde-20102023-083926/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1809090903614160896