Um estudo teórico sobre psicanálise e gênero: articulações a partir da teoria da sexualidade freudiana

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Cavallari, Marcela Augusto
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-21022020-123544/
Resumo: A descoberta freudiana sobre os aspectos do desenvolvimento da sexualidade infantil, apresentada sobretudo no artigo Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade de 1905, atravessou a passagem dos séculos, trazendo à tona uma discussão que anteriormente pertencia ao território das ciências médicas e da educação sexual. Ao desvelar o caráter perverso e polimorfo da sexualidade infantil, levantou questões que foram incômodas, para a moral burguesa vienense, resultando em acusações de que a psicanálise apresentava um caráter de pansexualismo e pornografia. Ainda assim, a Sexualtheory ganhou adeptos, indo contra a \"pedagogia negra\" que se prestava a reprimir as manifestações da sexualidade. A teoria da sexualidade freudiana deixou como legado uma série de pressupostos sobre os fatores metapsicológicos atuantes no desenvolvimento da sexualidade, como os conceitos de pulsão, zonas erógenas, disposição bissexual. No entanto, ao tentar elaborar as possíveis causas etiológicas das psiconeuroses e suas diferenças entre o menino e a menina associadas ao Complexo de Édipo, Freud deixou marcada em sua teoria um desvio biologizante sobre as diferenças da identidade sexual no menino e na menina, que no embate com as ciências sociais e os movimentos feministas suscitou inúmeras críticas. Diferentes movimentos sociais, como o feminismo e a luta pelos direitos LGBTTQ+ contribuíram no deslocamento de papéis sociais de gênero que perpetuavam uma norma binarista e heteromorfa. Pensadoras feministas importantes, desde Simone de Beauvoir até Judith Butler, além de muitas outras, compõem um movimento de reflexão crítica sobre as categorias identitárias \"homem\" e \"mulher\". O conceito de gênero passou a ser empregado na tentativa de desnaturalizar a diferença entre os sexos, tratando-se de compreender o gênero enquanto um fenômeno socialmente construído, para além do biológico. A identidade de gênero é então estabelecida de maneira descontínua, fluída, onde sexo, gênero e desejo não necessariamente estão em consonância, como nos casos dos transgêneros, travestis, transexuais e gêneros não-binários. Tais fenômenos adentram na psicanálise de uma maneira emergente, tanto por conta das discussões científicas e acadêmicas, quanto pela chegada desses sujeitos à clínica. Dentro deste recorte adotou-se como objetivo desta pesquisa investigar os principais conceitos da teoria da sexualidade freudiana e as ampliações da mesma realizada em Laplanche, autor que discute as noções voltadas ao desenvolvimento da sexualidade, identidade de gênero e gênero, à luz da contemporaneidade. Para tal, realizou-se uma revisão bibliográfica de caráter exploratório, onde as obras selecionadas para compor a leitura se deu de modo não sistemático, mantendo-se os limites da pesquisa. As articulações expostas permitem um panorama sobre o lugar da psicanálise hoje neste debate, enquanto teoria e enquanto técnica de tratamento, reafirmando que a medida em que se ocupa dos fenômenos subjetivos e intersubjetivos, pode estar a serviço como um aparato de resistência frente a normatização dos sexos e do gênero, pois oferece para seus sujeitos o espaço da escuta livre, dando voz ao emergente e aos deslocamentos que vão sendo promovidos na clínica com as transformações sociais
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A teoria da sexualidade freudiana deixou como legado uma série de pressupostos sobre os fatores metapsicológicos atuantes no desenvolvimento da sexualidade, como os conceitos de pulsão, zonas erógenas, disposição bissexual. No entanto, ao tentar elaborar as possíveis causas etiológicas das psiconeuroses e suas diferenças entre o menino e a menina associadas ao Complexo de Édipo, Freud deixou marcada em sua teoria um desvio biologizante sobre as diferenças da identidade sexual no menino e na menina, que no embate com as ciências sociais e os movimentos feministas suscitou inúmeras críticas. Diferentes movimentos sociais, como o feminismo e a luta pelos direitos LGBTTQ+ contribuíram no deslocamento de papéis sociais de gênero que perpetuavam uma norma binarista e heteromorfa. Pensadoras feministas importantes, desde Simone de Beauvoir até Judith Butler, além de muitas outras, compõem um movimento de reflexão crítica sobre as categorias identitárias \"homem\" e \"mulher\". O conceito de gênero passou a ser empregado na tentativa de desnaturalizar a diferença entre os sexos, tratando-se de compreender o gênero enquanto um fenômeno socialmente construído, para além do biológico. A identidade de gênero é então estabelecida de maneira descontínua, fluída, onde sexo, gênero e desejo não necessariamente estão em consonância, como nos casos dos transgêneros, travestis, transexuais e gêneros não-binários. Tais fenômenos adentram na psicanálise de uma maneira emergente, tanto por conta das discussões científicas e acadêmicas, quanto pela chegada desses sujeitos à clínica. Dentro deste recorte adotou-se como objetivo desta pesquisa investigar os principais conceitos da teoria da sexualidade freudiana e as ampliações da mesma realizada em Laplanche, autor que discute as noções voltadas ao desenvolvimento da sexualidade, identidade de gênero e gênero, à luz da contemporaneidade. Para tal, realizou-se uma revisão bibliográfica de caráter exploratório, onde as obras selecionadas para compor a leitura se deu de modo não sistemático, mantendo-se os limites da pesquisa. As articulações expostas permitem um panorama sobre o lugar da psicanálise hoje neste debate, enquanto teoria e enquanto técnica de tratamento, reafirmando que a medida em que se ocupa dos fenômenos subjetivos e intersubjetivos, pode estar a serviço como um aparato de resistência frente a normatização dos sexos e do gênero, pois oferece para seus sujeitos o espaço da escuta livre, dando voz ao emergente e aos deslocamentos que vão sendo promovidos na clínica com as transformações sociaisThe Freudian discovery on the aspects of the development of infantile sexuality, presented especially in the article Three Essays on the Theory of Sexuality of 1905, crossed centuries, bringing to light a discussion that previously belonged to the territory of medical sciences and sex education. By unveiling the perverse and polymorphic character of infantile sexuality, it raised questions that were troubling to Viennese bourgeois morals, resulting in accusations that psychoanalysis was pan-sexual and pornographic in character. Still, Sexualtheory gained supporters, going against the \"black pedagogy\" that was used to repressing the manifestations of sexuality. Freud\'s theory of sexuality left behind a series of assumptions about the meta psychological factors acting on the development of sexuality, such as the concepts of drive, erogenous zones and bisexual disposition. However, attempting to elaborate on the possible etiological causes of psychoneuroses and their differences between boys and girls in their crossing of the Oedipus Complex, Freud marked in his theory a biologizing deviation about the differences in sexual identity in boys and girls, which in the clash with the social sciences and feminist movements has aroused much criticism. Different social movements, such as feminism and the struggle for LGBTTQ + rights, contributed to the displacement of gender social roles that perpetuated a binary and heteromorphic norm. Leading feminist thinkers, from Simone de Beauvoir to Judith Butler, among many others, make up a critical reflection movement on the identity categories \'man\' and \'woman\'. The concept of gender began to be used in an attempt to denaturalize the difference between the sexes, trying to understand gender as a socially constructed phenomenon, beyond the biological one. Gender identity is then established in a discontinuous, fluid manner where sex, gender and desire are not necessarily in line, as in the case of transgenders, transvestites, transsexuals and non-binary genders. Such phenomena enter into psychoanalysis in an emerging way, both due to scientific and academic discussions, and the arrival of these subjects to the clinic. Within this framework, the objective of this research was to investigate the main concepts of Freud`s Theory of Sexuality and their extensions in Laplanche, an author who discusses the concepts focused on the development of sexuality, gender identity and gender in the light of contemporary times. Therefore, an exploratory bibliographic review was carried out, in which the selected works composed the reading in a non-systematic way but maintaining the research limits. The exposed articulation allow an overview of the place of Psychoanalysis today in this debate, as a theory and as an intervention technique, reaffirming that because it deals with subjective and intersubjective phenomena it may be at the service of an apparatus of resistance to the normatization of gender and sexes, as it is offered to its subjects a space of free listening, especially to the emergent voices and to the displacements that are being promoted in the clinic with its social transformationsBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPGomes, Isabel CristinaCavallari, Marcela Augusto2019-11-08info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-21022020-123544/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2020-02-21T18:46:03Zoai:teses.usp.br:tde-21022020-123544Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212020-02-21T18:46:03Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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