Liberdade de expressão e discurso de ódio: por que devemos tolerar ideias odiosas?

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Matheus Assaf
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-B5WGDL
Resumo: A presente dissertação pretende apresentar os principais argumentos filosóficos que justificam uma ampla proteção da liberdade de expressão a fim de demonstrar o papel fundamental que esse direito assume no Estado democrático de Direito. É sabido que grande parte da literatura jurídica advoga a necessidade da restrição do conteúdo do discurso em todas as esferas baseando-se, principalmente, na tese de que a dignidade seria um limite legítimo às falas ofensivas, odiosas e detestáveis. Para tanto recorre à questionável teoria da ponderação de princípios para definir qual dos direitos em conflito terá maior preponderância no caso em concreto. Contudo esse argumento - muito utilizado pela doutrina e jurisprudência pátrias - é inconsistente e superficial, pois além de banalizar a importância da dignidade, não compreende o substancial papel que a liberdade de expressão exerce nas sociedades contemporâneas. Partindo da constatação de que não há mais única concepção de bem que oriente a vida dos indivíduos modernos, argumento que não cabe ao Estado escolher quais os ideais podem ou não ser expressados. Em uma democracia composta por indivíduos moralmente autônomos é imprescindível que todas as opiniões e pensamentos possam se manifestar livremente, longe da censura estatal. Por isso estamos de acordo com o entendimento que se consolidou nos julgados da suprema corte norteamericana ao longo do século passado, que confere à liberdade de expressão a mais ampla proteção possível. Nesse sentido, ao encontro da tradição liberal, principalmente das teses de Dworkin, Baker, Holmes Jr. e Louis Brandeis, defendemos que em uma democracia até mesmo as ideias que odiamos devem ser toleradas. Primeiro porque somos todos igualmente livres para decidir quais os princípios, as crenças e ideologias que moldarão as nossas próprias vidas e, segundo, porque as evidências demonstram que o debate amplo e desinibido parece ser a melhor opção no combate aos discursos de ódio e intolerância, uma vez que toda ideia condenada à censura tende mais a ganhar do que a perder forças.
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Contudo esse argumento - muito utilizado pela doutrina e jurisprudência pátrias - é inconsistente e superficial, pois além de banalizar a importância da dignidade, não compreende o substancial papel que a liberdade de expressão exerce nas sociedades contemporâneas. Partindo da constatação de que não há mais única concepção de bem que oriente a vida dos indivíduos modernos, argumento que não cabe ao Estado escolher quais os ideais podem ou não ser expressados. Em uma democracia composta por indivíduos moralmente autônomos é imprescindível que todas as opiniões e pensamentos possam se manifestar livremente, longe da censura estatal. Por isso estamos de acordo com o entendimento que se consolidou nos julgados da suprema corte norteamericana ao longo do século passado, que confere à liberdade de expressão a mais ampla proteção possível. Nesse sentido, ao encontro da tradição liberal, principalmente das teses de Dworkin, Baker, Holmes Jr. e Louis Brandeis, defendemos que em uma democracia até mesmo as ideias que odiamos devem ser toleradas. Primeiro porque somos todos igualmente livres para decidir quais os princípios, as crenças e ideologias que moldarão as nossas próprias vidas e, segundo, porque as evidências demonstram que o debate amplo e desinibido parece ser a melhor opção no combate aos discursos de ódio e intolerância, uma vez que toda ideia condenada à censura tende mais a ganhar do que a perder forças.This dissertation intends to outline the main philosophical arguments which justify a broad freedom of speech protection to demonstrate the fundamental role that it plays in a Democratic state. Many Law scholars defend the need to impose restrictions on discourses in every area arguing that dignity would be a legitimate limit to offensive, hateful speech. Doing so, they resort to the questionable judicial principle weighing theory define which of the conflicting rights will prevail in the specific case. However, this argument - widely used by countrys doctrine and case law is inconsistent and superficial, because, besides trivializing the importance of dignity, it doesnt comprehend the substantial role that freedom of speech plays in contemporary societies. After verifying that there is not only one concept of good that guides individuals in modern societies, I argue that there is no room for the State to choose which ideals can or cannot be expressed. In a democracy composed by morally autonomous individuals, it is indispensable that every opinion and thought can manifest freely, away from the claws of state censorship. Therefore, we agree with this reasoning which has been consolidated in the American supreme court over the past century, providing the first amendment the widest protection possible. In this sense, following the liberal scholars, mainly Dworkin, Baker, Holmes Jr and Louis Brandeis, we argue that in a democracy even the ideas we hate should be tolerated. First, because we are all equally free to decide upon which principles, beliefs and ideologies we will live by and, secondly, because the evidence supports that broad and uninhibited debate seems to be the best option to fight hate speech, since every idea condemned to censorship has more to gain than to lose.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGLiberdade de expressãoDireitoLiberdade de palavraCensuraLiberdade de ExpressãoDemocraciaDiscurso de ÓdioAutonomiaDignidadeLiberdade de expressão e discurso de ódio: por que devemos tolerar ideias odiosas?info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o___vers_o_final_imp.pdfapplication/pdf1662298https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-B5WGDL/1/disserta__o___vers_o_final_imp.pdf458683bf807d269de0491188bfd18106MD51TEXTdisserta__o___vers_o_final_imp.pdf.txtdisserta__o___vers_o_final_imp.pdf.txtExtracted texttext/plain567179https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-B5WGDL/2/disserta__o___vers_o_final_imp.pdf.txt47f4f9a35ad41fb658ddc4e8dbe4da32MD521843/BUOS-B5WGDL2019-11-14 08:33:35.265oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-B5WGDLRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T11:33:35Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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